Bahia, Minas, dança e mais cultura

Foto: Renato Santos

 

Mulheres de Mar é uma pesquisa sobre os aspectos do universo feminino e da cultura afro-brasileira do Vale do Jequitinhonha em Minas e Recôncavo Baiano. O estudo será base para o processo de criação do espetáculo de dança inédito “Mulheres de Mar”, inspirado nas personagens da obra Mar Morto de Jorge Amado. Os registros estão disponíveis no Youtube Regina Perocini.

A pesquisa realizada com apoio da Lei Aldir Blanc tem como foco a compreensão desse universo feminino nas regiões ribeirinhas de Minas e litoral baiano, suas influências, raízes iniciais e o intercâmbio cultural. O registro originou uma mostra de diversas manifestações de afro-brasilidades somadas às experimentações artísticas vivenciadas durante o processo criativo inspirado nesse estudo. Os vídeos e fotografias serão exibidos gratuitamente, em formato de exposição fotográfica virtual e documentário, com o intuito de divulgar parte do rico patrimônio cultural brasileiro conjugado com conceitos e questionamentos acerca dos valores sociais creditados à mulher e à cultura negra.

“O aspecto que mais despertou pela escolha da obra de Jorge Amado para inspiração de Mulheres de Mar, foi a força das figuras femininas do romance, mulheres que vão da mítica Iemanjá à Lívia, Rosa, Dulce, Rita e Esmeralda, donas de seu destino, que reagem diante da dura realidade que lhes era imposta, conta Regina Perocini”

A água é representada pelo mar, que recebe os rios de Minas e que por sua vez é governado pela divindade Iemanjá, orixá símbolo de poder feminino. Na cultura Iorubá, as mulheres são ligadas a orixás femininos associados à água (omi), que representa indispensabilidade e fonte da vida.

Para compreensão desse universo feminino, o projeto contou com as participações: Maria José Lima, bacharel em Filosofia pela UFMG, especializada em História da África e pesquisadora da cultura Iorubá, como orientadora do estudo. Como arcabouço teórico, o estudo já conta uma pesquisa prévia de autoras (es) como Conceição Evaristo, Maria das Dores Pimentel, Ruth Landes, Pierre Verger e Luís Cláudio Nascimento, além de documentários e registros audiovisuais. Como conteúdo histórico de oralidade, tendo em vista culturas populares mineiras que dialogam com a cultura do Recôncavo Baiano, fez-se necessário o contato com grupos e representantes dessas culturas.

As regiões elencadas para estudo estão no Vale do Jequitinhonha: Diamantina, Chapada do Norte, Almenara e Jequitinhonha. No Recôncavo Baiano: Salvador, Santo Amaro, São Francisco do Conde, Bom Jesus dos Pobres, Acupe, São Braz, Cachoeira e Maragogipe. Grupos de dança, música, centros de cultura e artistas regionais foram acionados, para vivências corporais, entrevistas e consultoria. Entre eles, em Minas Gerais estão: As Lavadeiras de Almenara, Elza Có e o Boi Janeiro de Jequitinhonha, a rainha do congado Geni Carvalho e Rosa do Vale de Diamantina. No Recôncavo Baiano e Salvador: Samba de Nicinha, Casa do Samba Dona Cadú, Casa do Samba Dona Dalva Damiana, Rita da Barquinha, Dulce do Prato, Zélia do Prato, Santinha, Ebomi Cici e Vera Passos. Além disso, o contato com o matriarcado nos terreiros de candomblé, considerados patrimônio cultural, possibilitaram ainda um maior entendimento desse universo. No processo de investigação e gravação foram respeitadas as normas sanitárias de prevenção ao COVID-19.

A coleta de dados da pesquisa transformada em exposição virtual e vídeos aborda a força e o saber dessas mulheres, como também as diversas linguagens e manifestações culturais, bem como as conexões entre ritmo, movimento, simbolismo e inspiração na dança. O congado, o samba de roda, matriarcado no candomblé representam parte dessas manifestações.

Escrito por Jorge Amado em 1936, Mar Morto já apresentava personagens femininos de caráter transgressor antes mesmo que viesse à tona o movimento feminista no Brasil. A obra, em seu tempo, atribui voz à figura da mulher antes mesmo da mulher ganhar voz na própria realidade. E esta é uma das mensagens que o projeto Mulheres de Mar quer repercutir ao seu público quando apresenta mulheres mestras que são sinônimo de saber e representatividade em suas comunidades.

Postagens Recentes

  • Em BH

Orquestra Mineira de Rock apresenta show inédito com participação de Marcus Viana

Onírico: palavra grega que faz referência aos sonhos e fantasias. E foi nesse contexto que…

  • Em BH

Agriminas comemora 15 anos no Expominas

Crescimento é a palavra chave da AgriMinas – maior feira de agricultura familiar do país…