Belo Horizonte pode ficar sem água em alguns anos

A estação de tratamento de água da Copasa em Nova Lima (foto: reprodução/site oficial Copasa).

Com 100% de seu território ocupado e a qualidade dos seus rios e córregos comprometida, Belo Horizonte já não tem condições de fornecer água autonomamente para sua população, dependendo da captação de recursos hídricos em municípios da região metropolitana. Ao menos é nisso que acredita o corpo legislativo da capital mineira, que se reuniu na última segunda-feira para discutir o abastecimento de água para os próximos anos.

Atualmente, mais de 70% da água que abastece a capital é retirada do Rio das Velhas, em especial, da estação de Bela Fama, instalada pela Copasa no município de Nova Lima. No entanto, as áreas de recarga, que alimentam o Rio das Velhas, estão no quadrilátero ferrífero, onde a exploração de minério põe em risco a sustentabilidade dos recursos hídricos.

O alerta foi feito por pesquisadores ambientalistas e gestores públicos ligados à área em audiência pública da Comissão de Meio Ambiente e Política Urbana, realizada na tarde da última sexta-feira, 23 de março. Foi proposta a criação de uma comissão especial para tratar do tema e a realização de um seminário para debater soluções possíveis e novas práticas sustentáveis.

Mineração x mananciais hídricos

Representante do Movimento pela Preservação da Serra do Gandarela, o geólogo e pesquisador Paulo Rodrigues apresentou um breve mapeamento dos recursos hídricos ainda disponíveis no estado de Minas Gerais e que abastecem a capital e diversos municípios da região metropolitana. Rodrigues explicou que a Copasa atua com quatro sistemas integrados, sendo os dois principais o SIN Morro Redondo e o SIN Rio das Velha, este responsável pela oferta de 70,6% do consumo de água na capital.

Mapa das principais cidades banhadas pelo Rio das Velhas (foto: divulgação).

Uma sobreposição das formações geológicas e a divisão política dos municípios revela que o Rio das Velhas se forma exatamente no colar metropolitano, no centro do quadrilátero ferrífero, próximo às cidades de Outro Preto, Itabirito e Rio Acima. Destacando a mineração depredatória na região, o pesquisador alertou para a urgência em se rever as práticas de exploração no Alto Rio das Velhas para garantir a preservação, a médio prazo, dos mananciais hídricos que abastecem toda a região na descida do rio.

Responsável pelo abastecimento de água de cerca de dois milhões de pessoas em BH e região metropolitana, o Sistema Rio das Velhas é alimentado por inúmeros afluentes, impactados diretamente pela mineração. “A água está no minério. Está no topo do morro, o que facilita a distribuição. Mas é preciso escolher. Ou a gente minera, ou a gente preserva os nossos mananciais”, afirmou Rodrigues.

O ambientalista alertou para a necessidade de se rever, inclusive, a legislação referente ao tema, destacando que, apesar do esforço de preservação imposto pela criação das Áreas de Preservação Ambiental (APPs), há o entendimento legal de que a atividade de mineração é uma prática de utilidade pública, o que autorizaria a exploração, mesmo em APPs.

Perspectivas
Representante do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, Marcos Vinícius Polignano ponderou que não é possível que Belo Horizonte apenas cobre novas posturas dos demais municípios (na região do Alto Rio das Velhas) enquanto estabelece práticas avessas a essas demandas dentro de seu território. “BH tem que fazer o dever de casa também, não canalizar os córregos e recuperar as nascentes”, enumerou o ambientalista.

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