Entrevistas

Inflação da construção sobe e chega a 11,75% em 2022

Indicadores da Fundação Getúlio Vargas apontaram que o Índice Nacional de Custo da Construção, que mede a inflação dos produtos e serviços desse setor, subiu 2,81% em junho, bem acima da taxa de 1,49% apurada em maio. Com este resultado, o índice acumula alta de 7,20% no ano e 11,75% em 12 meses.

A taxa anunciada também é maior do que a observada em junho de 2021, apesar do acumulado em um ano agora estar menor. O grande responsável pelo avanço do índice foi o custo da mão de obra, que subiu 4,37% na passagem mensal, depois de já ter sinalizado alta de 1,43% na medição anterior.

Já os preços dos Materiais, Equipamentos e Serviços tiveram uma leve desaceleração, passando de 1,55% em maio para 1,40% em junho, mesmo movimento observado nos Serviços, que tinham subido 0,90% e agora avançaram 0,50. A FGV também divulgou nesta segunda-feira o Índice de Confiança da Construção, que avançou 1,2 ponto em junho, chegando a 97,5 pontos, alavancado pelos investimentos do mercado imobiliário e da infraestrutura.

Conversamos com o engenheiro de produção Adson Almeida, gerente comercial e sócio da Projelet, empresa especializada em sistemas de instalação prediais, para entender melhor o contexto. O especialista traçou um parâmetro sobre a situação da construção civil no Brasil atualmente e explicou sobre fazer para reduzir os custos em uma obra. Veja a seguir:

Adson Almeida é engenheiro de produção, gerente comercial e sócio da Projelet (foto: divulgação)

Por que a mão de obra na construção civil subiu tanto?
A mão-de-obra na construção civil apresentou esse aumento assim como em muitos outros segmentos. Com a situação da pandemia, muitas pessoas tiveram seus trabalhos direcionados para o Home Office. Com muitas pessoas em casa, houve um aumento considerável na procura por novos imóveis, mais espaço e mais qualidade. Com isso o setor imobiliário viveu bons momentos em 2020/2021. Com esse aumento de demanda por novos imóveis, o mercado se viu aquecido e, consequentemente, teve que contratar. Nestes momentos de aquecimento de um determinado setor é natural que o custo da mão-de-obra tenha uma tendência de aumento. Aliado a isso, vivemos um período de alta de inflação no mundo inteiro, o que também faz com que os profissionais deste e de outros setores subam as suas pedidas salarias.

A procura por talentos na engenharia está acirrada?
Sem dúvida, a procura por bons profissionais nunca se viu tão acirrada como agora. Os bons profissionais da área de Engenharia geralmente não estão disponíveis e, quando estão, naturalmente não custarão barato. Por muitos anos vivemos crises cíclicas no país, o que afeta diretamente o desenvolvimento dos profissionais nas áreas de Engenharia. Muitos deles acabam desistindo de prosseguir na carreira por falta de oportunidades. Assim, aqueles que se mantém na área, acabam sendo bastante disputados.

Um bom planejamento pode contribuir para deixar a construção com um valor mais acessível? 
Um bom planejamento sem dúvida nenhuma contribui para que o custo da construção seja mais controlado. Tudo se inicia na execução de bons projetos, sejam de arquitetura/estrutura ou de instalações (elétricas, hidráulicas, climatização e incêndio). Um bom projeto auxilia o construtor na previsão das melhores soluções técnicas, tanto sob o ponto de vista normativo quanto do ponto de vista do melhor custo-benefício para determinado produto. É através dos projetos que o construtor poderá planejar o cronograma da obra, bem como orçá-la no tempo devido e consolidar o avanço físico-financeiro do empreendimento como um todo.

O que é necessário para o desenvolvimento de um bom planejamento da obra?
Um bom planejamento de obra passa necessariamente por bons profissionais, com experiência e bagagem. Aliado a isso é necessário a utilização de boas ferramentas de gestão, treinamento e capacitação continua dos profissionais que estão no canteiro de obras, bons projetos e sobretudo uma comunicação eficiente. Envolver sempre os times de orçamento e suprimentos também é imprescindível, além de cuidar de toda a logística e da formatação de processos robustos de produção e qualidade.

Quais são as ferramentas mais modernas da construção civil, hoje?
A construção civil assim como outras áreas está em constante evolução. A tecnologia BIM veio para ficar. Novas formas de se construir bem como o uso de realidade aumentada e gêmeos digitais podem acelerar ainda mais o aperfeiçoamento dos processos na construção civil.

Numa projeção futura, você enxerga mais uma alta para a construção civil ou acredita que podemos ter uma reflação dos preços?
É sempre muito difícil projetar o futuro. Acredito que o mercado de construção civil ainda é muito promissor no Brasil e até mesmo mundialmente falando. Há déficit habitacional em muitos países e isso requer obras para suprir essa demanda. Acredito que haverá o desenvolvimento de novas regiões fora dos grandes centros que, com o tempo, poderão trazer um certo equilíbrio para os preços, mas não neste momento, pois ainda estamos vivenciando os reflexos da pandemia com a escassez de insumos em praticamente todas as cadeias produtivas.

O Brasil está aquém de países de primeiro mundo ou nossa construção civil é referência?
Diria que o Brasil atualmente já emprega boas técnicas construtivas, mas ainda temos muito a evoluir. Precisamos de mais tecnologia, mais capacitação, menos impostos, menos burocracia e, sobretudo, um olhar não para o que queremos para o país amanhã, mas o que pensamos para o Brasil daqui a 50/100 anos. O segmento da Construção Civil é e será sempre um dos motores propulsores da nossa economia. Acredito que estamos evoluindo de forma mais acelerada neste momento, mas precisamos muito de um olhar atento sobre o nosso mercado, a mão-de-obra e sobre as gestões públicas, que devem ser agentes facilitadores para aquelas empresas que querem trazer inovação e crescimento para este mercado.

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