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Mãos (femininas) à obra!

Por muitos séculos, para não dizer alguns milênios, a construção civil foi uma atividade estritamente masculina. Esse estereótipo, que atribuía ao homem a exclusividade de ser a força – literalmente falando – de trabalho, manteve as mulheres distantes de tudo o que circundava o universo da engenharia. A história mostra que o papel que lhes foi imputado de meras donas de casa privou o mundo de grandes feitos na área da construção.

A maior prova disso talvez seja o trabalho de Emily Warren Roebling, norte-americana que conduziu a construção da Ponte do Brooklyn, em Nova Iorque (EUA), inaugurada em 1883. Ainda hoje a obra chama a atenção pelo design desafiador adotado numa época em que a tecnologia aplicada à engenharia civil estava longe de ser avançada.

Mas não podemos nos furtar também de mencionar a brasileira Enedina Alves Marques, a primeira mulher, e negra, a se formar em engenharia no Brasil. É ela quem assina a construção da usina hidrelétrica Capivari-Cachoeira, inaugurada em 1971, e que ainda hoje é a maior usina subterrânea do Sul do país. Uma engenheira que se viu obrigada a pegar em arma para exigir respeito na profissão.

Para o bem do futuro da construção civil, essa é uma realidade que está mudando, e despontam no horizonte chances promissoras de novas Emilys e Enedinas deixarem marcas indeléveis no mercado nacional. Se há alguns anos as mulheres eram uma imensa minoria no mercado e nas faculdades de engenharia, gradativamente elas estão tomando lugar e dando mais equilíbrio aos números.

O Painel da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho, revela que o número de mulheres no mercado da construção civil teve um crescimento de 5,5% em 2020 quando comparado com 2019. Hoje elas representam 216.330 pessoas nos postos de trabalho, contra 205.033 no ano anterior. Outra estatística das mais recentes vem do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), que mostra que, entre os anos de 2016 e 2018, o número de mulheres engenheiras registradas no país cresceu 42%.

Os números são positivos, mas ainda aquém perto do predomínio masculino. Estamos falando de uma quebra de paradigma enraizada já há muito tempo, e que exige não apenas a entrada de mais mulheres nas universidades como também uma abertura maior do mercado à contratação na mesma proporção dos homens.

Ainda que algumas empresas sejam formadas majoritariamente por mulheres, como é o caso da Projelet, escritório de engenharia focada no desenvolvimento de projetos com soluções inovadoras. Hoje o desequilíbrio ainda persiste, visto que em 2015 as mulheres já representavam 30% das vagas nas faculdades de engenharia no país, de acordo com dados do Censo da Educação Superior. Número significativo, mas que não reflete na distribuição do mercado, onde, em 2017, apenas 13,6% eram do sexo feminino. No próprio Confea, as mulheres são apenas 20% de todos os engenheiros ativos. Uma clara defasagem em relação ao perfil dos novos profissionais que desembarcam no mercado.

Portanto a ordem é seguir em busca do equilíbrio e do respeito. Sem espaço, sem igualdade de condições e sem apoio público, as mulheres já deixaram importantes registros no exercício da engenharia. Com um cenário bem diferente, mais igualitário, elas serão capazes de levar para a construção civil aquilo que parecem ter com vigor desde o nascimento: o brilho, a perseverança e a inovação!

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