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Mulheres ampliam espaço no ensino superior

O fortalecimento do papel da mulher na sociedade nas últimas décadas tem sido fruto de pequenas vitórias nos mais diversos segmentos. Desde legislações que visam a abertura de portas no processo eleitoral, passando por políticas públicas sólidas de proteção às mulheres até a ocupação natural de espaços antes inóspitos a sua presença. Gradativamente, mas com bastante atraso, a mulher vai tomando assento em cadeiras que já deveriam ser suas por direito.

No entanto, essa ocupação é morosa, o que leva a cenários de injustiça que insistem em se perpetuar. Alguns deles podem ser vistos ao debruçar sobre os números do ensino superior no Brasil, tanto na perspectiva do aluno quanto no quadro de docentes. Neste caso específico, aliás, deparamos com um paradoxo que simboliza a misoginia estrutural, alicerçada justamente nas entranhas de instituições que deveriam se abrir a novos paradigmas em vez de prorrogar velhas tradições.

Para chegarmos a essa análise, é preciso contextualizar todo o cenário, começando por sua base: há anos, as mulheres já são maioria em todos os níveis do ensino superior e pós-graduação no país. Ou seja, não há nenhum absurdo em dizer que a mulher no Brasil está mais qualificada do que o homem.

Dados do IBGE divulgados no início deste ano mostram que em praticamente todas as faixas etárias o público feminino com formação superior é maior do que o masculino. No grupo de 25 a 34 anos, aquele mais próximo do universo dos recém-formados, 25,1% delas têm 3º grau completo, enquanto apenas 18,3% deles têm graduação. Não por acaso, a exceção é a faixa acima dos 65 anos. É a única em que os homens com ensino superior têm maior percentual, revelando um retrato antigo, porém esclarecedor, do que eram as mulheres na comunidade acadêmica até meados dos anos 90.

Além disso, revela o IBGE, elas também dominam as qualificações no país em se tratando de titulações de mestrado e doutorado. Um cenário que bem deveria ser positivo revela, no entanto, contradições que não se restringem à realidade brasileira.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) também tem elaborado um estudo, intitulado Education of Glance 2019, que mostra que em seus 36 países-membros e em outras 10 nações, dentre elas o Brasil, as mulheres são maioria não apenas entre os ingressantes nas universidades como também entre os concludentes dos cursos de graduação. O problema é que em todos os países pesquisados, a mulher ainda tem grande dificuldade de acesso ao mercado de trabalho.

Pelo menos no Brasil, a injustiça começa, como eu disse antes, na própria docência acadêmica: em 2019, 46,8% dos professores universitários brasileiros eram compostos por mulheres. Em 2003, 16 anos antes, elas eram 43,2%, o que mostra um avanço bastante discreto no perfil de contratações.

E isso, é claro, se reflete em praticamente todo o mercado de trabalho. O IBGE mostra que 82% daquelas mesmas mulheres com idade entre 25 e 34 anos e com ensino superior completo estão empregadas. Entre os homens, o índice de empregabilidade é de 89%. Na mesma faixa etária, 76% dos homens sem formação superior conseguem um emprego – número muito acima dos 45% das mulheres nas mesmas condições.

São muitos os números que fazem ligar o sinal de alerta. Mas é necessário trazê-los à tona para mostrar que o mercado insiste em fugir do critério da qualificação para se contratar. Contraditoriamente, o próprio mercado é capaz de atestar a capacidade feminina no exercício de suas funções, mas há barreiras históricas e talvez até econômicas que fazem ruir a lógica do mercado em favor da mão-de-obra masculina. Realidades que precisam ser derrubadas o mais rápido possível.

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