Colunas

Mulheres também sabem construir

A inclusão é uma das palavras-chave do novo milênio. E as mulheres, que compõem uma leve maioria da nossa sociedade, talvez sejam o melhor exemplo do estrago que a histórica falta de espaço nos causou. Por muito tempo, foi-lhe relegado o papel de mera dona de casa, subtraindo seu direito de empreender, de liderar, de revolucionar o mundo à sua volta.

A misoginia patriarcal que perdurou por séculos matou não só inúmeras mulheres submetidas à violência. Ela também deixou um legado de destruição contra incontáveis engenheiras, arquitetas, médicas, cientistas, atletas, escritoras e políticas de renome que poderiam ter surgido num ambiente que não fosse de restrições e de falta de incentivo à força de trabalho feminina.

As grandes mulheres da história não foram apenas espetaculares naquilo a que se dedicaram com fervor. Suas biografias também costumam revelar uma infância restringida aos afazeres domésticos e à falta de estudos, e ainda seus esforços para alcançar um espaço na sociedade que começou a ser desestimulado dentro de suas próprias casas.

Ainda hoje o cenário não é muito diferente, mas a luta vem angariando pequenas vitórias dia após dia. Uma delas está exposta num relatório do Sebrae, elaborado a partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnadc), que mostra que hoje existem 10,1 milhões de mulheres administrando empresas país afora. Essa quantidade equivale a pouco mais de 34% do mercado. Isto significa que ainda há um desequilíbrio no mercado se comparado à divisão populacional entre homens e mulheres.

Ainda assim, é um processo que vem angariando números positivos, e que só reforçam a persistência feminina e sua vocação em vencer. A própria engenharia, que por séculos foi resumida à atuação masculina, traz exemplos notáveis desse poder. Um deles é o de Nora Stanton Barney, engenheira britânica que se radicou nos Estados Unidos, onde tornou-se a primeira mulher a ingressar na Sociedade Americana de Engenheiros Civis (Asce, na sigla em inglês). Ela construiu uma história de destaque na Companhia Americana de Pontes e no Conselho de Abastecimento de Água de Nova York.

Por trás da sua forte relação com a engenharia, foi necessário que houvesse também uma mulher aguerrida, determinada a lutar contra o preconceito e em favor do seu espaço. Nora precisou reivindicar a vaga na Asce e o respeito da sociedade norte-americana na justiça, e abriu mão do seu casamento por ter ao lado um esposo que lhe exigia que abandonasse a engenharia civil para cuidar dos afazeres domésticos.

Também merece reverências a engenheira civil paranaense Enedina Alves Marques. Ao se formar em 1945 pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), tornou-se a primeira mulher formada em engenharia civil pelo Estado e a primeira mulher negra a alcançar o feito em todo o país. Mas Enedina estava destinada a fazer história. Além da marca feminina e da sua raça, também honrou a profissão e deixou um importante legado à frente do Departamento Estadual de Águas e Energia Elétrica, onde liderou a construção da Usina Capivari-Cachoeira.

Por isso, duvidar da representatividade feminina no campo da engenharia e em tantas outras áreas de atuação é antes de tudo desconhecer a própria história na sociedade, que foi forjada em cima de ironias, de cerceamentos ao seu espaço e sobretudo de violência aos seus direitos e à sua capacidade. A construção civil deve muito ao papel que elas já desempenharam, e os avanços do setor necessariamente passam por mãos femininas.

Postagens Recentes

  • Em Minas

Pela 3ª vez, Instituto Brasileiro apresenta na ONU projetos sobre o Desenvolvimento Inteligente das cidades

O Instituto de Planejamento e Gestão de Cidades (IPGC) esteve na Turquia a convite da…

  • Em Minas

Anderson Franco formaliza convite, na segunda-feira, em Taiwan, ao presidente da maior empresa fitness do mundo para Instalação no Brasil

Anderson Franco, empreendedor e CEO da Allp Fit, formaliza um convite ao presidente da Matrix,…