Um ano de lama

Foto: André Penner/reprodução.

 

Há um ano atrás, nosso telefone tocou.  Era um leitor. Atendemos atenciosos como sempre fazemos. O que não sabíamos era que ele traria uma das notícias mais impactantes que poderíamos receber nos três anos de atuação que tínhamos até então: rompeu mais uma barragem da Vale, dessa vez em Brumadinho.

Ficamos encabulados. “Como é que isso aconteceu outra vez”, pensamos. Chegamos até a cogitar que era uma fake news (esse termo estava em alta na época). Então procuramos o Corpo de Bombeiros para tentar saber se de fato uma ocorrência em algum dos complexos da Vale em Brumadinho. E sim, eles confirmaram. Mas chegaram a dizer que “era coisa pequena”. Sequer eles sabiam (ou omitiram) o tamanho da tragédia.

Mensagens começaram a chegar no WhatsApp, mas nada dos vídeos ainda. Até que recordamos que tínhamos uma “fonte quente” que trabalhava com o transporte da Vale. Fizemos contato. Ela (a fonte) não atendeu. Ficamos apreensivos sobre a tal demanda e então focamos nossa energia.

Procuramos a Vale e todos os telefones estavam desligados aparentemente. Nada de informações. Até que o primeiro vídeo chegou. O telefone toca sem parar. O WhatsApp começa a lotar de dúvidas tanto de leitores quanto de colegas de profissional. Enfim a confirmação… O Corpo de Bombeiros confirma que, mais uma vez, outra barragem da Vale rompeu. Desta vez, a popular barragem do Feijão, em Brumadinho.

Toda essa história parece ser um acontecimento durou horas, não parece? Mas durou pouco menos de 40 minutos. 40 minutos de pura angústia da nossa parte sem saber de fato o que havia acontecido. Mas todo esse nosso aperto no peito não chega nem perto do que os familiares das vítimas ainda desaparecidas devem estar sofrendo.

Sofrendo há um ano.

Relembre quando a Barragem rompeu. Fizemos um post em nosso Instagram:

Hoje faz exatamente um ano da tragédia de Brumadinho e 11 pessoas ainda estão desaparecidas. Isso mencionar que em alguns casos, familiares receberam apenas parte do corpo das vítimas. Agora, o total de pessoas que foram ceifadas pelas ações da Vale em Brumadinho  é de 270 vidas. 259 delas já foram identificadas (123 empregados próprios, 117 empregados terceiros e 19 moradores da região).  .

Pouco dias antes de aniversário mais cruel que o Brasil já teve, no dia 21 de janeiro de 2020, o Ministério Público Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) denunciou 16 pessoas vinculadas à mineradora e a empresa alemã TÜV SÜD por homicídio doloso pelo rompimento da barragem e também por crimes ambientais.

Em nota, a Vale diz estar perplexa e confirma que está se empenhando para esclarecer o que houve para que a barragem fosse a baixo, matasse dezenas de pessoas, devastasse o córrego do Feijão e contaminasse até o ecossistema do Rio São Francisco . Veja só:

A Vale informa que tomou conhecimento nesta data, 21 de janeiro de 2020, do oferecimento de denúncia pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) com relação ao rompimento da Barragem I, na Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG).

Sem prejuízo de se manifestar formalmente após analisar o inteiro teor da denúncia, a Vale desde logo expressa sua perplexidade ante as acusações de dolo.  Importante lembrar que outros órgãos também investigam o caso, sendo prematuro apontar assunção de risco consciente para provocar uma deliberada ruptura da barragem.

A Vale confia no completo esclarecimento das causas da ruptura e reafirma seu compromisso de continuar contribuindo com as autoridades.

Enquanto a mineradora não se resolve com a justiça, ao menos ela presta contas de suas ações de reparação em Brumadinho e nas comunidades que foram prejudicadas pela sua irresponsabilidade. Segundo a empresa, um orçamento previsto em R$ 24 bilhões será dirigido para indenizações, intervenções ambientais, projetos socioeconômicos, apoio a medidas do poder público e descaracterização das barragens a montante em Minas Gerais. Veja a tabela abaixo:

Foto: reprodução/Vale/site oficial.

Ainda segundo a empresa, o principal foco de atuação da Vale em Brumadinho é o atendimento às pessoas. A minerroda informa que o “objetivo é reparar os danos causados, com iniciativas para restabelecer social e ambientalmente os municípios impactados, priorizando o diálogo próximo com as comunidades e Poder Público”.

Também em nota oficial, a Vale comunicou que “segue apoiando as ações do Corpo dos Bombeiros e da Polícia Civil. Em outubro de 2019 a Vale concluiu a doação de 77 veículos às Forças de Segurança de Minas Gerais (Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros) e à Defesa Civil. O valor total do investimento em veículos e demais itens adquiridos voluntariamente e sem contrapartida fiscal é superior a R$ 70 milhões”.

Porém, fica a dúvida sobre sua idoneidade caso acompanhemos as queixas do MP em relação a possíveis documentos falsos, relações promíscuas, omissão da verdade ao poder público; à sociedade; aos acionistas e investidores; e laudos forjados acobertando a tragédia iminente que a emrpesa supostamente teria apresentado durante as investigações.

Indenizações
Ainda em janeiro a empresa realizou doações voluntárias – R$ 100 mil para 276 famílias de vítimas do rompimento; R$ 50 mil para cem famílias que residiam na Zona de Autossalvamento (ZAS) da barragem B1; e R$ 15 mil para 91 produtores rurais e comerciantes com atividades produtivas na ZAS. O objetivo da ação foi garantir o custeio de despesas pessoais de curto prazo das famílias, produtores rurais e comerciantes do Córrego do Feijão e Parque da Cachoeira, em Brumadinho, permitindo que eles pudessem negociar, com tranquilidade, suas respectivas indenizações individuais.

Visita de comitiva de deputados às áreas atingidas pelo rompimento das barragens da Mina do Córrego do Feijão, da Vale, no município de Brumadinho. Os legisladores encontraram com vítimas que estavam recebendo indenizações, em abril de 2019  (foto: Sarah Torres).

Em abril, a Vale e a Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais assinaram Termo de Compromisso por meio do qual as pessoas atingidas pelo rompimento da Barragem de Brumadinho pudessem optar por acordos individuais ou por grupo familiar, para buscar indenização por danos materiais e morais. Até o dia 16 de janeiro, 3.193 acordos haviam sido aceitos por famílias atingidas.

Em 15 de julho, a Vale e o Ministério Público do Trabalho de Minas Gerais assinaram, com a participação de sindicatos, acordo por meio do qual os familiares dos trabalhadores (próprios e terceiros) vítimas do rompimento puderam se habilitar a receber reparação, iniciando a execução do acordo individual. Até o dia 16 de janeiro, haviam sido concluídos 1.541 acordos trabalhistas.

Em 28 de novembro, o TAP foi renovado por mais 10 meses, com mudança no perfil de elegíveis. A empresa entende que a prorrogação do acordo reforça seu compromisso com a reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem, de forma célere e abrangente com iniciativas para restabelecer social e ambientalmente os munícipios impactados, priorizando o diálogo próximo com as comunidades e Poder Público.

Revitalização do rio Paraopeba
A Vale vem trabalhando na recuperação ambiental do rio Paraopeba e seu entorno. Seus esforços estão focados tanto na contenção dos rejeitos, quanto no tratamento da água, já tendo tratado e devolvido 5,5 bilhões de litros de água ao curso do rio, por meio de duas estações de tratamento (ETAFs).

Em março de 2019, uma equipe da USP foi designada para medir os índices de contaminação da água no rio Paraopeba por conta de dejetos vindos do córrego do Feijão (foto: reprodução).

A empresa construiu três grandes estruturas de contenção (duas barreiras hidráulicas filtrantes e um dique), além de 25 pequenas barreiras estabilizantes para reter o carreamento de sedimentos. Também instalou uma cortina de estacas metálicas para conter os rejeitos e limpar a área onde está a maior concentração de rejeitos. Com essa medida, os sólidos não são mais levados pelo curso do rio desde maio.
Para recuperação do Paraopeba, a Vale também iniciou a dragagem dos rejeitos de trecho impactado do rio Paraopeba. Por meio dessa ação, o material acumulado na região assoreada do rio é removido e desidratado em bolsas geotêxteis. A água drenada é bombeada para uma estação de tratamento e retorna limpa ao rio Paraopeba. O planejamento é que a dragagem siga até 2020, começando na confluência do ribeirão Ferro-Carvão com o rio Paraopeba e seguindo por cerca de 2 km a jusante desse ponto.
A Vale monitora a qualidade da água do rio Paraopeba desde janeiro de 2019. Atualmente, são 90 pontos de monitoramento cobrindo uma área de mais de 2,6 mil km de extensão, que inclui o ribeirão Ferro-Carvão, rio Paraopeba e 10 de seus afluentes. A companhia mantém ainda 16 sondas paramétricas que viabilizam, por meio de telemetria, a leitura remota de parâmetros físicos e químicos da água, de hora em hora, aumentando a eficiência das informações.
Até o momento, já foram realizadas cerca de 4,5 milhões de análises de água, solo e sedimentos em mais de 40 mil amostras para análise de diversos parâmetros, como a presença de metais na água, pH e turbidez. As análises da Vale e do Igam mostram que a pluma de sedimentos que vazou da B1 parou no reservatório da Usina de Retiro Baixo, no município de Pompéu (MG), não atingindo, dessa forma, o Reservatório de Três Marias e o Rio São Francisco.
Futuro de Córrego do Feijão

Os rejeitos de minério escoaram para o córrego do Feijão (foto: Instituto Minere.

Após um processo de escuta das principais reivindicações da comunidade para Córrego do Feijão, a Vale apresentou um projeto de requalificação urbana chamado território-parque, um conceito que inclui ações de melhoria de infraestrutura (reforma, pavimentação e urbanização de ruas, casas e estruturas), reativação econômica e desenvolvimento do turismo local, além de cuidado com a memória das vítimas do rompimento da Barragem

Abastecimento
Com o objetivo de recuperar a captação da água do rio Paraopeba que foi danificada, a Vale iniciou as obras do novo sistema de captação de água do rio Paraopeba, que deve ter sua conclusão em setembro de 2020. A construção está a cerca de 12 km a montante da atual estrutura de captação interrompida da Copasa, na zona rural de Brumadinho. A adutora ligará o novo ponto de captação ao sistema já existente da concessionária. A estrutura terá a mesma vazão, de 5 mil litros por segundo, da captação atualmente suspensa e seguirá as mesmas premissas de engenharia.

Em outubro, a Vale iniciou as obras da nova adutora do rio Pará, localizada entre Pará de Minas e Conceição do Pará, na região Centro-Oeste do Estado. A estrutura tem vazão de 1 milhão de litros por hora, a mesma que o município captava no rio Paraopeba antes do rompimento. A previsão é que a obra seja finalizada em julho de 2020, quando será entregue à Prefeitura de Pará de Minas e operada pela Concessionária Águas de Pará de Minas (Capam).

A empresa também instalou 22 poços artesianos em cidades abastecidas pela Bacia do Paraopeba, garantindo água potável para as comunidades. Esses poços são complementares à distribuição emergencial de água realizada diariamente por, aproximadamente, 100 caminhões pipa. Mais de 560 milhões de litros de água já foram entregues

Cuidado com animais
A Vale mantém uma estrutura para resgate, identificação, cuidado e abrigo para animais domésticos e silvestres das áreas atingidas. Além de um hospital veterinário com pronto atendimento e equipamentos de diagnósticos, a empresa mantém a Fazenda Abrigo de Fauna em Brumadinho que já recebeu 865 animais. Desses, 340 já foram adotados, reintegrados a seus tutores ou realocados à natureza.

Monitoramento, segurança e descaracterização das barragens
A Vale inaugurou, em fevereiro de 2019, seu primeiro Centro de Monitoramento Geotécnico, para dar suporte às operações de geotecnia da empresa em Minas Gerais. O centro monitora atualmente 111 estruturas. O corpo geotécnico faz a leitura dos instrumentos existentes nos locais e as informações são todas disponibilizadas no Centro de Monitoramento. Junto com as informações fornecidas por radares e câmeras, a Vale consegue monitorar e tomar decisões de maneira mais segura e assertiva.

A empresa está trabalhando para eliminar os riscos de todas as suas barragens com alteamento a montante. Em novembro, a empresa concluiu as obras da primeira das barragens que serão descaracterizadas: a barragem 8B, localizada na Mina de Águas Claras, em Nova Lima. A estrutura não possui mais alteamento e nem funciona como barragem. A área foi revegetada com 1.100 mudas de plantas nativas, para reintegrá-la ao meio ambiente.

Enquanto não há a descaracterização, a Vale está atuando para aumentar o fator de segurança dessas estruturas, por meio de medidas como rebaixamento do nível de água com bombeamento, perfuração de poços (para evitar contribuições de água subterrânea) e construção de canais, cujo objetivo é desviar água da chuva.

A barragem B3/B4, da mina Serra Azul, em Nova Lima, é uma das que corre risco de rompimento (foto: divulgação/Vale).

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