Vale sabia da instabilidade em barragem desde junho de 2018, diz técnico

Foto: André Penner/reprodução.

Pelo menos desde junho de 2018 a mineradora Vale tinha conhecimento dos riscos de rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho. Na ocasião, a empresa determinou intervenções não rotineiras na barragem, com o objetivo de drenar a água para impedir vazamentos.

As informações são do técnico em eletroeletrônica Moisés Clemente, funcionário da gerência responsável pela manutenção e segurança da barragem, segundo o site da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. As declarações foram feitas durante depoimento prestado nesta quinta-feira (1/8/19) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Barragem de Brumadinho, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), confirmando outros depoimentos anteriormente colhidos pela comissão.

Segundo Moisés, entre os dias 11 e 13 de junho de 2018 houve uma movimentação diferente na região da barragem da mina Córrego do Feijão, resultando em pelo menos 24 horas de trabalho ininterrupto. Ele explicou que a turma C, da qual faz parte, não chegou a ser convocada para essa atividade extraordinária, mas colegas da turma D teriam informado a ele a respeito, garantindo que a situação da barragem sugeria risco máximo (10) e não 3, como a empresa informara aos funcionários. Na sua opinião, a Vale errou ao minimizar os riscos para os funcionários. “Essa omissão de informação fazia a gente acreditar na segurança e estabilidade da barragem”.

De acordo com relato de seus colegas, reproduzido por ele à CPI, a turma em atividade naqueles dias fora convocada para serviço braçal, carregando sacos de areia com o objetivo de criar um dreno invertido. Para isso, escavaram um fosso com cerca de três metros de profundidade por três de comprimento, preenchido com areia. Disse ainda que a partir de dezembro “as tratativas se tornaram mais intensas, uma demanda fora da normalidade”.

Ele informou, ainda, que em 2016 a Vale deixou de trabalhar com a empreiteira Pimenta de Ávila, especializada em geotecnia, gestão de riscos e segurança de barragens e que, segundo ele, executava o trabalho com muita competência, tendo participado, inclusive, da elaboração do plano de segurança da barragem.

Para o relator da CPI, deputado André Quintão (PT), o depoimento de Moisés Clemente “é importantíssimo porque confirma o que a CPI já estava recolhendo em documentos e de outros depoentes”. “Em junho de 2018 houve um grave fraturamento hidráulico, com vazamento de água na barragem; houve um mutirão entre trabalhadores de várias áreas para tratarem desse evento”, disse o parlamentar.

“Não foi um evento simples como a Vale quis dizer, inclusive aqui nessa CPI”, afirmou o relator, que considerou o depoimento de Moisés “muito autêntico, que confirma que a Vale sabia das condições de instabilidade da barragem, deveria ter acionado o plano de ação de emergência, deveria ter evacuado a área já em junho de 2018 e infelizmente isso não aconteceu e acarretou a morte de 270 pessoas”.

O vice-presidente da comissão, deputado Sargento Rodrigues (PTB), também questionou a forma como a mineradora agiu, lembrando que em 2018 funcionários de empreiteiras teriam sido acionados em caráter excepcional durante vários dias. Citou, como exemplo, o caso de Olavo Barbosa Coelho, pai de Fernando Henrique Barbosa Coelho, que prestou depoimento na CPI narrando que o pai fora chamado às pressas pela Vale, na noite do dia 12 de junho, para atender a uma emergência. “Tentaram esconder a situação de grave instabilidade da mina Córrego do Feijão”, criticou o parlamentar.

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