Autoconhecimento: o segredo para vencer a depressão

Problemas emocionais também podem afetar consideravelmente a saúde física, como é o caso da depressão. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 5,8% da população brasileira sofre de depressão – um total de 11,5 milhões de casos. “É uma doença multifatorial, com diversas causas. E também se subdivide em transtornos específicos, cada um com suas características e tratamentos individuais, a que, normalmente, nos acostumamos a agrupar sob o nome único de depressão. Antes mesmo de se fechar o diagnóstico do quadro (o que exige critérios médicos), percebo que o sentimento de frustração com relação a si mesmo pode ser um grande fator contributivo”, explica o dermatologista e escritor Guilherme Oliveira.

É muito comum que inúmeras pessoas se formem, trabalhem, se casem e comprem carro, apartamento e viagens e, no fim disso tudo, se perguntem se a vida é apenas isso. Enfim, seguem todo um “script” inconsciente coletivo que, no fim das contas, parecem deixar a vida, paradoxalmente, ainda mais vazia. E esse vazio, impossível de ser preenchido, pode ser um dos sinais da depressão.

“Com relação à profissão, esse aspecto tem se tornado cada vez mais frequente. Deixamos de utilizar nossos dons e talentos – aquelas contribuições especiais, que apenas o indivíduo em si sabe oferecer ao mundo – para darmos lugar a uma formação ou a um fazer que nos pareça mais sólido e rentável. Assim, acabamos por realizar o sonho da família ou da sociedade, e não o nosso”, revela.

O especialista frisa a importância da resiliência e do autoconhecimento. “É preciso um mergulho dentro de si mesmo, para se reconhecer quem realmente se é. Após tantos anos, ou uma vida inteira, cumprindo com as exigências do mundo externo, do coletivo, num dado momento, muitos se perguntam quais as reais necessidades e vontades do seu mundo interno e da sua individualidade. Não existe resiliência sem fatos. Tampouco, sem o devido olhar sobre tais fatos. Para que o acontecimento gere uma mudança interna – e, posteriormente, externa – é necessário uma avaliação, durante a qual você olha para este desafio – sem julgar se foi bom ou ruim – e tenta tirar uma experiência a partir dele. Isso exige disponibilidade, coragem e tempo”, considera.

O livro

Foto: divulgação

Em outro país, vivenciando uma quarentena causada pela pandemia de Covid-19, quando retorna ao Brasil, Guilherme externa suas experiências daquele momento no livro chamado Meus Dias Comigo. “A ideia partiu de uma querida amiga, para quem contei sobre os fatos da minha última viagem à Dinamarca, entre fevereiro e março de 2020. Em Copenhagen, vivi desafios que eu jamais poderia imaginar, até pisar o solo dinamarquês. Uma viagem para a qual criei altas expectativas, acabou fugindo totalmente do que havia planejado. Precisei me adaptar a todas as situações imprevistas. Escrevi o livro ao longo de 9 meses, durante os quais meditei sobre os fatos e procurei crescer com cada um. A pandemia me privilegiou com o tempo, ao longo do qual consegui estar disponível para enfrentar, ainda que com dor, cada uma das situações que eu, confesso, talvez preferisse esquecer”, lembra.

O dermatologista escritor espera poder levar conhecimento e ajudar pessoas que se sintam perdidas e desanimadas. “Quero poder contribuir com quem passa por desafios semelhantes aos que passei. De maneira que os leitores possam se sentir acolhidos ao perceber que – sim! – há quem passe por problemas, há quem sofra… Quem se sinta sozinho, ainda mais, estando fora do país… Quem enfrentou a pandemia e teve medo de morrer ou, na melhor das hipóteses, não retornar ao próprio país. Porém, ao mesmo tempo, há alguém que, hoje, consegue olhar para tudo isso e ter orgulho do que se tornou. Quero encorajar os leitores a encarar os fatos exclusivos de suas vidas que fizeram, de maneira tão especial e única, serem quem são. E, com isso, quem sabe, extraírem da própria biografia, uma história que mereça ser contada ao mundo”, finaliza.