DIÁRIO DE UMA INTERCAMBISTA

O programa Ciência sem Fronteira, do Governo Federal, tem como objetivo a troca de ideias dos estudantes de graduação do Brasil com universidades do exterior. Desde o início , em 2012, o programa já levou mais de 22 mil universitários brasileiros para expandirem seus conhecimentos escolas de outros países.

O dia em que Caroline concluiu seu curso e recebeu o diploma da University of Kentucky.

Uma desses estudantes é Caroline Reis, de 22 anos, que cursa Engenharia de Minas pela Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG), e foi aos Estados Unidos para uma ‘graduação sanduíche’ na Universityof Kentucky, na cidade de Lexington, região Sudeste do país. Nossa personagem ficou por 1 ano e 2 meses no exterior e voltou para o Brasil há pouco mais de uma semana.

“Muitos foram os aprendizados na área de estudo, mas o maior aprendizado sem dúvidas foi pessoal. Sempre mantive o foco nos objetivos e nas coisas boas que aconteciam no momento”, resume Caroline sobre sua passagem pelo país.

Segundo a graduanda, a estrutura da universidade é exemplar. Todos sabemos o quanto renomadas são as universidades estadunidenses, mas a garota faz questão de reafirmar do perfeccionismo e da qualidade do ensino ofertado por lá. “Na UK onde passei mais tempo encontrei professores dispostos a ajudar e uma estrutura que oferecia sempre a última tecnologia em todos laboratórios” ela disse.

Além da Universityof Kentucky, Caroline também teve passagem Illinois Instituteof Technology, em Chicago, região Centro-oeste dos Estados Unidos. Nesta segunda, a jovem ficou por 2 meses e também desempenhou atividades ligadas a engenharia de minas. Assim como a primeira, a qualificação do Instituto é com excelência. “Ambas faculdades são modelo”, diz.

Visita ao Willis Tower, uma torre de 442 toda feita em vidro, em Chicago.

Apesar do curto período no exterior, Caroline afirma que o tempo foi suficiente para agregar uma boa quantidade de informações, principalmente as que tem ligação com sua área. “Adquiri muitos conhecimentos específicos da minha área de estudo, experiências que jamais teria se não tivesse me ausentado. Conhecimento cultural e principalmente conhecimento interpessoal”, comenta a jovem.

E por falar em conhecimento, não para menos tal aquisição na vida de Caroline, afinal ela estava no Primeiro Mundo. Os Estados Unidos investem cerca de US$450 bilhões por ano em pesquisas, segundo Batelle, uma ONG dedicada ao assunto. Convertendo em Reis, na atual situação, este aporte pode chegar a marca de R$ 1,3 trilhões. Valor bastante significativo e que auxilia o advento econômico nacional.

Pedimos a nossa personagem que comparasse as universidades na qual cursou no exterior e a UEMG, sua faculdade origem. A resposta de Caroline foi clara curte e com tons de seriedade misturados ao deboche sobre as condições encontradas por aqui. “Comparar a estrutura das universidades americanas com as das brasileiras é desleal. Na UEMG lutamos para conseguir mesas e cadeiras o que dizer do resto”, relata.

Compreendendo esta última fala de Caroline como um desabafo, é deixado no ar um questionamento preocupante: qual o caminho da educação no Brasil? Faltar cadeiras em uma universidade como a UEMG, uma das maiores do Estado de Minas Gerias, é um absurdo. Temos 173 universidades no Brasil (11 delas em Minas Gerais), entre privadas e públicas, contra 64 nos Estados Unidos. E ainda assim há uma lacuna enorme entre esses dois países quando o assunto é investir em educação superior.

Caroline visita o Castelo de Hogwarts, cenário do filme Harry Potter, em Orlando, na Flórida.

Atualmente o país ocupa a 36º quando no ranking de maiores investidores. Nós investimos US$ 36 bilhões, cerca de R$ 120 bilhões, segundo a Batelle. Parte deste investimento é dedicado ao programa Ciências sem Fronteiras. O mesmo que Caroline participou.

“A bolsa do governo acredito que possuiu o valor ideal para as cidades em que fiquei. Economizei em uma coisa e outra, mas consegui viajar e me manter sem nunca faltar nada. Porém conheço pessoas em lugares como o Hawai que devido ao alto custo do local a bolsa não era suficiente”, comenta a respeito da bolsa. Caroline aproveita a deixa para apontar algumas falhas no programa. “Como o programa era do governo é de se imaginar alguma burocracia em alguns pontos. Muito atraso de bolsa, demora na aprovação de documento e a falta de suporte por meio principalmente da CAPES e algumas vezes do IIE nos deixava preocupados”, confessa.

Além do conhecimento cientifico, fazer intercambio também é um ganho para o lado cultural. Aprender com fluência uma nova língua, observar como se organiza pessoas em um outro lugar do mundo e conhecer experiências diferentes é sem sombra de dúvidas uma vantagem do intercâmbio.

Neste quesito, não houveram reclamações. “Cultura é engraçada! Quando mudei para os Estados Unidos vi muita coisa que não entendia e agora que voltei sinto a mesma coisa aqui. Nós nos adaptamos muito rápido a cultura local”, comenta. “No começo tudo é novo, tudo é mágico. Toda caminhada a cada esquina era cheia de descobertas e tudo era extremamente divertido”, recorda.

Visita ao evento Spring Break, em Nova Orleans, cidade da Luisiania.

Recordações misturam na cabeça de nossa personagem e a faz sorrir quando se trata de suas viagens. Ela diz ter conhecido lugares que tinha crescido assistindo em filmes, tem uma lembrança das pessoas marcantes e se lembra das viagens que fez. “, gostaria de ter viajado pra mais lugares mais não tinha mais tempo/dinheiro pra isso. Mas estou feliz por ter conhecido Nova York, Nova Orleans, Orlando, Pensacola, Atlantic City e outros lugares que tive oportunidade além é claro de Lexington e Chicago, as cidades em que morei”, recorda.

E de tanto rodar, a jovem acabou conhecendo pessoas que fizeram o inverso do seu roteiro – vir intercambiar no Brasil. Segundo, os intercambistas adoraram nosso país e disseram que desejam voltar. Todos avaliaram as condições de suas escolas natais como melhores, mas no coração o verde e amarelo ficou.

Sobre a adaptação ao local, a jovem intercambista confessa que não teve problemas.“Me adaptei ao lugar rapidamente, não foi tarefa difícil. Logo na semana de boas vindas a equipe da universidade fez com que nós brasileiros nos sensitivos em casa”, comenta.

Depois de tantas trocas de conhecimentos, Caroline acredita ser ter se tornado uma profissional melhor e difere o Primeiro Mundo do Segundo. “Valorização do trabalhador geral, observei isso por lá. Todos trabalhamos visando adquirir uma qualidade de vida. Nos Estados Unidos pelo menos, isso parece algo mais próximo a realidade de todos”, comenta.

Caroline participou de diversos projetos e no final do curso apresentou um resultado de toda sua pesquisa. Parabéns, Caroline!

No inglês não existe tradução para a palavra saudade, mas é assim que ela se sente agora que voltou. De forte foi o vínculo com o país, Caroline não esconde a vontade de retornar aos Estados Unidos. “Tive a oportunidade de viver dentro da faculdade, morar em um dormitório no meio de onde tudo acontece e tive aula com professores mundialmente famosos na minha área. Não tive como não apegar”, comenta.

Uma das queixas é quanto a hospitalidade. “A proximidade que nós Brasileiros temos uns com os outros. Criamos afinidade muito rápido. Eles não”, confessa. E claro, a saudade da família também é levada em consideração. “Senti muita falta da minha família. Na época do natal pensei em desistir do programa e voltar pra casa. Foi desnecessário passar esse período festivo longe de casa, estávamos todos de ferias, o programa poderia ter nos liberado a vir e voltar”, confessa.

Ao lado dos amigos, outra parada foi a capital Washington.

Agora que voltou , Caroline está focada na conclusão do curso e em encontrar o seu lugar no mercado. “Antes mesmo de ser um profissional eu já me sinto um estudante melhor, sinto que tenho conhecimentos que posso aplicar de modo a melhorar minha faculdade. E claro, em um futuro emprego”.

“Voltei há uma semana e agora preciso correr atrás das matérias perdidas na faculdade. Sinto como se tivesse tido um sonho realizado e o que tornou isso tudo possível foi o programa Ciência sem Fronteiras. Eu não teria como bancar esse intercâmbio! Tenho a noção de que este programa é um programa caro e que talvez haja prioridades na área da educação que merecem mais esse dinheiro, mas eu ainda acredito que o Brasil tem condição de investir na base da educação e continuar com programas como o CSF, basta cobrarmos do governo o destino do nosso dinheiro”, ela conclui.

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