Documentário ‘Rio Doce’ é a voz de uma população perdida em lama

01 ano se passou deste a tragédia com a Barragem de Fundão, em Mariana. De lá para cá, a única coisa que mudou foram os agravantes ambientais que a passagem da lama de rejeitos deixados pelas operações da Samarco causaram. Um desses agravantes foi com a bacia do Rio Doce, que será lembrada no documentário “Rio Doce”.

O objetivo do filme é usar a população ribeirinha do rio Doce para contar o antes, durante e depois a catástrofe. São várias chamadas de pessoas que dependiam daquele ecossistema para viverem. Pessoas que não tem voz ativa aos olhos de autoridades e dos representantes dos responsáveis pela tragédia. Pessoas que viram a vida e a morte do rio Doce e tiveram a coragem de documentar tudo.

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“Com o desenrolar da tragédia em Mariana e o avanço da lama pelo Rio Doce, sentimos que precisávamos estar lá para entender o que estava acontecendo e contar essa história. Seguimos para lá assim que conseguimos nos organizar e chegamos em Regência a tempo de testemunhar a chegada da lama no mar”, comenta Pedro Senra, Jornalista que dirigiu o documentário.

A lama era tanta que foi necessário mais de uma viagem para documentar todo a circunstância. “Desde o começo das filmagens, sabíamos que seria necessária uma segunda viagem, com um tempo que nos permitisse entender melhor o que estava acontecendo, sem as dúvidas e correria dos primeiros dias após o desastre. Queríamos ver como a tragédia havia afetado a vida das pessoas ao longo do rio, e como a natureza vinha se recuperando dessa agressão”, conta Hermano Beaumont, outro diretor do projeto.

Ao todo, foram cerca de 20 dias de filmagem e mais de 100 pessoas entrevistadas. Contando as duas viagens, foram cerca de 05 mil quilômetros rodados, com mais de 20 cidades visitadas para poder contar essa história.  05 desses personagens foram destaque e você confere os depoimentos logo abaixo:

“Para mim é muito triste, porque eu presenciei tudo. Eu fiquei no alto do morro, à noite, assistindo à cheada da lama. Eu sabia que a minha casa estava indo embora. Tudo o que o meu adquiriu em 51 anos foi tudo levado embora de repente, em questão de segundos. Televisão, fotos, dinheiro, documentos… levou tudo. Fotos de infância, do casamento do meu pai, de nós quando criança. Essas recordações todas não existem mais. Não há dinheiro que pague isso”, é o que lembra Tcharle Batista.

“Eu comecei a remar aqui de caiaque em 84 e em 89 iniciamos o surfe de corredeiras. A cada temporada, a gente convidava surfistas de fora para poder conhecer o rio. Vinha gente de tudo quanto é lugar. Em um dia crowd, tinha no máximo umas oito pessoas se divertindo na água. A ficha ainda não caiu. A gente está em plena temporada de surfe e eu estou ansioso, nervoso por não poder pegar onda. Sem surfe, eu não sei o que eu vou fazer”, lamenta Paulo Guido

“A gente trabalha a semana inteira. O dia que a gente tem para pegar é hoje, no final de semana. Eu saí de casa cedo, até com blusa de frio, para poder pegar. Já é de tarde e eu estou esperando essa água até agora. Cade essa água? Disseram que o caminhão está vindo de Belo Horizonte desde ontem. Um pastor da igreja que me deu esse galão, mas foi de tanto eu reclamar, senão eu não tinha ganhado também não. E vocês estão achando que eu peguei esse galão aqui e vou embora? Eu vou é voltar para a fila”, desabafa Cleunice dos Santos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Eu vi muita gente da Samarco chegando assustada no bar onde eu trabalho, perto da barragem. Eu fiquei sem chão quando um senhor me disse que tinha visto os seus amigos morrendo. Meu irmão estava bem próximo à barragem. Tentaram esconder isso da gente, mas eu fui sondando e descobri que ele foi uma das primeiras pessoas atingidas. Ele estava dando uma manutenção e, quando ouviu o barulho, alguém ainda conseguiu entrar em contato e disse: ‘corre Mateus, porque a barragem estourou’. Aí ele só respondeu “ok”, e ninguém soube mais dar notícia. Eu vejo a mídia dizendo que vai levar anos pra recuperar o meio ambiente, mas eu acho que as maiores vítimas somos nós, porque uma vida não se traz de volta. Quando eu lembro do sorriso dele, eu me emociono”, conta Jaqeline Ferreira.

“O rio sempre esteve presente na vida dos índios Krenaks, com a pesca, os costumes e a nossa cultura. Por ser fonte de vida, nos dar peixe, caça, fazer parte da nossa História, da nossa música e nos dar força nos rituais, na parte religiosa. O povo Krenak está aqui desde antes da chegada dos invasores, em 1500. Sempre esteve nessa margem do rio. A gente sabia que o rio não estava 100%. Já estava um pouco doente, mas não da forma como está hoje. Hoje o rio está morto, né? A gente não pode nem tocar no rio. Não pode pescar, não pode nadar, não pode fazer nada”, recorda Itamar Krenak.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

#NãoFoiAcidente

No dia 5 de novembro de 2015, o Brasil assistiu pela televisão enquanto 60 milhões de metros cúbicos de lama desciam pelos vales da cidade histórica de Mariana, em Minas Gerais, destruindo centenas de casa, deixando centenas de desabrigados. O distrito de Bento Rodrigues, o primeiro a ser atingido e o mais próximo da barragem, foi completamente destruído e hoje é uma cidade fantasma. O desastre continuou quando esta lama chegou ao Rio Doce, percorrendo 550 quilômetros até encontrar o mar, em Regência, no Espirito Santo. 19 pessoas morreram.

 

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