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15 de dezembro de 2023Diagnosticado com glioblastoma multiforme, Nívio Rodrigues tinha expectativa de vida de três meses a um ano; paciente segue sendo monitorado pela pesquisa, que ainda busca voluntários
Há pouco mais de um ano e três meses, o aposentado Nívio Rodrigues, 57, natural de Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, começou a sentir dores na cabeça que atrapalhavam na hora de dormir e durante o trabalho. Logo em seguida, veio a perda dos movimentos dos dois lados do corpo. Após várias consultas e medicamentos que não resolveram o problema, uma ressonância magnética deu o diagnóstico: glioblastoma multiforme, um tipo agressivo de tumor cerebral. O choque da notícia veio acompanhado da expectativa de vida que ele poderia ter dali para frente, que ia de três meses a um ano.
Com a investigação concluída, Nívio chegou à Santa Casa BH, referência em Minas Gerais no tratamento de todos os tipos de câncer adulto e pediátrico. A instituição conduz, desde janeiro de 2022, uma pesquisa inédita no Brasil que busca desenvolver uma nova opção de tratamento para os casos novos de glioblastoma multiforme. O estudo é conduzido pelo Departamento de Neurocirurgia da Santa Casa BH Hospital de Alta Complexidade 100% SUS e pelo Laboratório de Biologia Molecular e Biomarcadores da Faculdade de Saúde Santa Casa BH, com o apoio do Ministério da Saúde – no âmbito do Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (PRONON) – e da Prefeitura de Belo Horizonte (Secretaria Municipal de Saúde).
Como atendeu aos critérios de participação, Nívio se tornou voluntário da pesquisa e passou pelas duas etapas do tratamento. A primeira delas consiste na cirurgia de retirada do glioblastoma, que utiliza um microscópio de alta tecnologia e um composto orgânico, como explica um dos coordenadores do estudo, o neurocirurgião da Santa Casa BH, Dr. Marcos Dellaretti. “Nós aplicamos uma substância chamada fluoresceína, no momento da indução anestésica, e isso gera o mesmo efeito de contraste dos exames de ressonância magnética. O tumor fica amarelo, enquanto o cérebro se mantém branco. Dessa forma, conseguimos distinguir as áreas normais das regiões afetadas, podendo assim aumentar a extensão da remoção, melhorando os índices de retirada tumoral. A tecnologia também utiliza realidade aumentada”, diz.
Nívio passou por dois procedimentos com a fluoresceína, ambos bem sucedidos. Com isso, pouco tempo depois, já apresentou evolução. “Logo após a primeira cirurgia, vi que estava melhor, fiquei animado e queria que as enfermeiras e os médicos vissem que eu me sentia bem. Me levantei do leito e tentei andar. Hoje, estou me sentindo bem, graças a Deus, e foi devido ao tratamento da Santa Casa BH. Também não estou fazendo mais quimioterapia. É uma nova vida com certeza!”, relata.
Controle da doença e acompanhamento
Com o sucesso do tratamento do glioblastoma multiforme, os três meses de expectativa de vida que foram dados a Nívio ficaram para trás. No entanto, como explica Dellaretti, não é possível, ainda, falar em cura, mas em controle, “isso significa que pode haver a recidiva do tumor, ou seja, ele pode voltar, o que é bem comum nos casos de glioblastoma”, pontua o neurocirurgião da Santa Casa BH.
E é aí que entra a segunda etapa da pesquisa: o monitoramento da recidiva tumoral nos pacientes operados, por meio da biópsia líquida. Com essa técnica molecular, é possível identificar o reaparecimento do glioblastoma antes mesmo que ele seja detectável nos exames de imagem.
As coordenadoras dessa frente do estudo são as docentes e pesquisadoras Dra. Cristina Moraes Junta, bióloga molecular e geneticista, e a Dra. Renata Simões, biomédica e patologista molecular, ambas da Faculdade de Saúde Santa Casa BH. Dra. Cristina pontua que “a biópsia líquida é um exame com baixa invasibilidade, já que depende somente da coleta do sangue do paciente. O exame detecta alterações no DNA tumoral circulante presente no plasma sanguíneo, devido ao desprendimento dessas moléculas do tumor sólido”, diz.
Já a Dra. Renata completa que, “com a detecção precoce da volta da atividade tumoral proporcionada pela biópsia líquida, que é um método com maior sensibilidade, é possível, por exemplo, adequar a conduta terapêutica do oncologista”, comenta.
O Nívio se encontra nessa fase. Seu material genético está sendo monitorado periodicamente e, de três em três meses, comparece à Santa Casa BH para ser avaliado. Porém, para ele, a sensação já é de vitória. “Quando cheguei em casa depois desse susto todo, a primeira coisa que fiz foi abraçar minhas duas filhas, que são o presente que Deus meu deu”, relatou emocionado.