Obra de Carlos Gomes e José de Alencar ganha adaptação no Palácio das Artes

A Fundação Clóvis Salgado integra-se às programações que celebram a vida e a obra de Carlos Gomes, no ano em que se completam 180 anos de seu nascimento e 120 anos de sua morte, com uma montagem especial de O Guarani. Sob direção musical e regência de Silvio Viegas, e concepção, direção cênica e cenografia de Walter Neiva, a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais e o Coral Lírico de Minas Gerais apresentam a mais famosa ópera do principal compositor brasileiro, aclamado no Alla Scala de Milão, na Itália, um dos palcos operísticos mais importantes do mundo.

Relembre a canção de O Guarani, de Carlos Gomes.

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Entre os solistas, estão importantes nomes do cenário operístico nacional e internacional. Nos papeis principais estão a cantora Marina Considera, interpretando a Cecília e Richard Bauer, o índio Peri. Completando o elenco de solistas estão José Gallisa e Mauro Chantal (Dom Antônio), Michel de Souza e Eduardo Sant’Anna (Gonzales), Lucas Ellera (Rui Bento), Matheus Pompeu (Dom Álvaro), Savio Sperandio (Cacique) e Pedro Vianna (Alonso).

O figurino, de Cibele Navarro, se preocupa em equilibrar a contemporaneidade com os elementos de época. Uma das grandes novidades é a não utilização de penas naturais na indumentária indígena.

Após 14 anos, a Fundação Clóvis Salgado apresenta novamente a história do amor proibido entre Cecília e o índio Peri, da tribo Guarani, em uma montagem com duas horas de duração, que conserva toda a trama do libreto.

 

Desvendando o Brasil

Foi a partir de um folhetim escrito por José de Alencar, que já havia feito sucesso no Brasil e depois de traduzido foi vendido nas ruas de Milão, na Itália, que Carlos Gomes se inspirou para compor a ópera. Assim, com essa obra, ele conseguiu alimentar os anseios da sociedade italiana por novidades, buscando um novo modelo operístico ou temas exóticos.

O cenário é um dos pontos em destaque da peça (foto: Netun Lima).

Para Walter Neiva, nesta montagem contemporânea do O Guarani, além de valorizar a música de Carlos Gomes, deve-se também tornar mais claro o enredo. “A ópera trata do embate entre a cultura e a natureza virgem”, explica o diretor.

O Guarani aborda questões como a disputa entre portugueses e espanhóis, os constantes embates entre os povos indígenas e os colonizadores e também as disputas entre as tribos Aimoré e Guarani. Essas disputas estão presentes também no universo de Cecília. Ela é uma das poucas personagens do mundo operístico que possui quatro pretendentes, o índio Peri, o espanhol González, o português Dom Alvaro e o Cacique Aimoré. Ceci representa a pureza.

“A cenografia tenta fugir dos castelos, calabouços, pórticos e florestas luxuriantes, tão comuns nas encenações tradicionais dessa ópera”, diz o diretor cênico. Para Neiva, em O Guarani, o compositor consegue um feito digno de nota, ao adaptar uma história tipicamente brasileira aos moldes da ópera italiana. “Mesmo que Carlos Gomes, em alguns momentos, evoque melodias de serestas brasileiras, não se pode negar que O Guarani seja uma ópera italiana, com forte influência de Donizetti, Verdi e Meyerbeer”, explica Walter Neiva.

 

Gênio brasileiro

Após a memorável estreia no Alla Scala, de Milão, em 1870, o sucesso de O Guarani foi tão grande, que viria a ser encenada diversas vezes em toda a Europa e no Brasil. Para Silvio Viegas, esta composição é um exemplo da genialidade de Carlos Gomes. “Ele foi muito mais talentoso do que muitos compositores italianos da época. Por não pertencer a um grupo ou outro, ele pode circular livremente. Ele conseguiu nessa ópera criar algo novo, respeitando o passado e sem contrariar ninguém”.

A protofonia inicial, que resume todos os temas da ópera, é uma das composições sinfônicas mais famosas do Brasil, sendo, há anos, a música de abertura do programa de rádio do Governo Federal, Hora do Brasil. “É uma composição sinfônica com qualidade orquestral inquestionável, forte, cheia de energia e virtuosismo”.

Apesar de ser o maior compositor de ópera brasileiro e o primeiro a alcançar sucesso mundial, Carlos Gomes faleceu no Brasil sem o devido reconhecimento. “Montar O Guarani é quase uma obrigação, é uma obra que retrata a cultura do nosso povo, é uma música de grande qualidade que não podemos deixar ‘passar em branco’. O que se observa no Brasil é um ciclo vicioso, de montar certas obras famosas e conhecidas pelo público e aquelas que não são tão famosas vão se perdendo na memória. Por isso é de extrema importância que a Fundação Clóvis Salgado coloque em evidência, mais uma vez, a ópera O Guarani”.

 

O ator Savio Sperandio, no papel de Cacique (foto: Netum Lima).

Sobre o figurino

Para Cibele Navarro, figurinista de O Guarani, o grande desafio da montagem é combinar as informações históricas de vestuário com a contemporaneidade. Desde setembro de 2015 ela vem pesquisando a indumentária e adereços europeus e indígenas de 1500, buscando informações e materiais para construir os cerca de 200 figurinos e adereços que estão sendo produzidos.

 

Criatividade com sustentabilidade

Nenhum dos mais de 60 cocares ou adereços receberão penas naturais para representar o colorido das pinturas indígenas. Tecidos, linhas, miçangas e sementes vão enriquecer as peças usadas pelos solistas e também pelos membros do coro. Cuidadosamente confeccionados à mão, cada um dos cocares é único e foi elaborado após extensa pesquisa que considerou diversas etnias indígenas brasileiras.

Para Cibele Navarro, a opção pelos tecidos foi uma decisão natural, que exigiu criatividade. “Temos que apresentar soluções sustentáveis no mundo de hoje, pensando no futuro, pensando sempre em uma geração à frente. A utilização de adornos com produtos resultantes da matança de animais não se justifica e nem é possível aceitar neste início do século 21”, concluiu.

Além das peças indígenas, estão sendo produzidos também adornos de camponeses, chapéus e perucas, elaborados depois de extensa pesquisa, respeitando-se os materiais utilizados na época, como o algodão e americano cru.

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